14/07/2018

ARTIFICIAL



Tempo bom era quando a gente achava que os robôs eram bacanudos.

Tinha o do seriado “Perdidos no Espaço”, que pressentia o perigo e salvava todo mundo. No futuro dos “Jetsons”, também dos anos 1960, a vida automatizada parecia ótima e só prometia benefícios. Máquinas inteligentes cuidariam do bem estar da gente o tempo todo. Mas aí veio “2001” com o sacana do Hal 9000 pra botar uma pulga na orelha: e se esses robôs ficarem tão espertos a ponto de se rebelarem? Depois veio o "Terminator". Aí fudeu geral! Máquinas no comando, bicho...

Bom. E se esse for o menor de nossos problemas?

Pra começar, isso não é mais "coisa do futuro". Esses “robôs inteligentes” já estão por toda parte. Tipo: você liga pro seu banco, pra sua operadora de TV por assinatura etc e já não é mais uma pessoa quem lhe atende direto. É uma máquina, que vai cumprindo etapas genéricas do atendimento assim, assim, assado... até que seja necessária (ou não) a intervenção humana. É o melhor exemplo que me ocorre de como a inteligência artificial (IA) atua em nosso dia-a-dia. E tem um troço que me assusta aí.

Há tempos a indústria e o agronegócio crescem investindo pesado em tecnologia de automação. No setor automotivo, por exemplo, etapas inteiras das linhas de montagem ficaram com cada vez menos interferência humana. A rigor, é isso que a tecnologia faz com mercado de trabalho – substitui pessoal, em busca de eficiência em processos produtivos, com economia em custos operacionais e despesas trabalhistas.

Com a inteligência artificial que taí a coisa não funciona diferente, não. A CB Insights, uma empresa que presta consultoria e pesquisa de mercado nos EUA, publicou dados assustadores. Na próxima década, pelo menos 10 milhões de estadunidenses correm o risco de ficar sem emprego por causa do crescimento da automação nas empresas. As áreas de serviço e de logística devem ser as mais afetadas a cada inovação nas tecnologias de IA.

A mesma pesquisa aponta que outros cinco milhões de postos de trabalho, ligados em especial ao comércio (onde softwares substituem centenas de milhares de vendedores em carne e osso a cada ano) também correm um risco, só considerado médio. É bem verdade que a expectativa é de que o mercado se adapte e que outras profissões surjam, melhorando essa matemática aí. Mas os tempos mudaram. As relações de trabalho também.

A velocidade das revoluções tecnológicas é absurda e o investimento em IA, hoje, impulsiona centenas de Start Ups em todo planeta. Os bot softwares são capazes de reproduzir e simular ações humanas em quase todas as áreas. Inclusive as criativas. Há quem recomende que esses mecanismos auxiliem e não substituam. E há trabalhos degradantes e perigosos em que pessoas podem muito bem ser substituídas por robôs.  A nanotecnologia, aplicada à medicina por exemplo, pode salvar inúmeras vidas.

Ok, há mais coisas a considerar.

Apenas que não há estudos que apontem o impacto das novas tecnologias de IA no mercado de trabalho, por enquanto. O que sabemos é que os robôs já conseguem conversar, andar, fingir emoções etc. Um dia será corriqueiro ve-los dirigir carros, pilotar aviões e fazer cirurgias, tudo sem interferência humana. Provavelmente, em breve, serão capazes de construir outros robôs mais espertos ainda. Aliás, consta que já teriam conseguido criar até uma língua própria – sendo, posteriormente, desligados pelo Google.

Será mesmo? Enfim.

Sabemos também que, a serviço de grupos pouco honestos, bots manipulam dados nas redes sociais, interferindo nas vidas das pessoas. Tudo através de algoritmos que armazenam dados pessoais à revelia dos usuários. Essas coisas absorvem e processam conhecimento melhor e mais rápido do que os seres humanos. Essa eficiência dos robôs define o sucesso dos negócios na era virtual, não importa se de forma lícita ou não. Daí que se invista cada vez mais neles.

Fico pensando: essas empresas investem tanto para que robôs fiquem no lugar das pessoas e esquecem que robôs não vão às compras. Será que elas pensam sobre quem serão os consumidores do futuro? Quem se preocupa em garantir que a gente que perdeu seus empregos por conta da IA será reposicionada no mercado? E de qual mercado estamos falando, se nenhuma profissão está livre dessa automação?

Fodão em futurologia, até o físico Stephen Hawking  declarou ter certo medinho das máquinas espertas. Mas o buraco pra ele era mais embaixo. "Eu tenho medo de que a Inteligência Artificial substitua os humanos por completo. Se as pessoas projetam vírus para computadores, alguém irá projetar que IA possa melhorar e e se reproduzir. Esta será uma nova forma de vida que supera os humanos", disse, em entrevista à revista Wired.

Muito antes de as máquinas se rebelarem, talvez trabalhadores famintos resolvam partir pra cima delas. Talvez jamais saibamos - as mídias, velhas e novas, já estariam comprometidas. Sabemos que alguns sites utilizam dispositivos capazes de (re)produzir material jornalístico, substituindo palavras e estruturas de acordo com o interesse do freguês. Daí as Fake News, daí a tal Pós-Verdade etc etc etc. Este texto mesmo, agora mesmo, pode estar sendo escrito por um robô.

Quem garante que não?.. que não... garante... não... garante... que... gar... bzzzzzzzzz



Por Bob LeMont (ou não)

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