"Para manter uma lamparina acesa, precisamos continuar colocando óleo nela!" A frase, atribuída a Madre Teresa de Calcutá (coisa de Google, nem sei se é verdade), parece cair como uma luva pra indústria do cinema. O que separa os santos dos pecadores é a finalidade - e os estúdios não vivem de reza, nem fazem milagres. Se a chama acende na bilheteria, é preciso continuar alimentando o fogo da audiência. Por conta disso, blockbusters e cult movies ganham sequência(s) há mais de um século.
Por bem ou por mal. Fazer o quê?
Tudo teria começado com O Nascimento de uma Nação, de 1916. Lamentavelmente, as plateias adoraram aquela história dos tempos da Guerra Civil americana - ainda que recheada com muita estupidez. Mas muita mesmo. Não apenas pela guerra retratada em si, mas por ser extrema e irresponsavelmente racista. Pra se ter uma ideia do estrago, o filme foi responsabilizado pela volta da Ku Klux Klan após longo e necessário banimento.
(Sic) Mesmo assim, pelo sucesso de bilheteria (consta que só superado por E o Vento Levou em 1939), ganhou uma sequência no ano seguinte, chamada de A Queda de uma Nação. E caiu mesmo.
Foi um fracasso.
Mas de lá pra cá, sem demonstrar qualquer remorso sobre qualquer tema (apenas mais cuidado) os estúdios não desistiram. Desde O Poderoso Chefão de Coppola, ou mesmo antes, já se sabia que era possível fidelizar as plateias de cinema em torno dos mesmos personagens. E foi graças a George Lucas, ainda nos anos 1970, que veio a certeza de que era possível faturar muito alto estabelecendo extensas franquias cinematográficas como Guerra nas Estrelas. E isso se deve bastante a uma sequência de sucesso. Não fosse o êxito de O Império Contra-Ataca, provavelmente não haveria o resto.
A mesma lamparina só permanece acesa com o combustível certo.
Que fique claro. Filmes de arte não precisam de bilheteria para se estabelecer, então ficam de fora desta crônica. As trilogias dos grande diretores, não necessariamente casadas, não entram nas minhas elucubrações. Até porque eu não vou falar daquilo que eu não entendo. Sou nerd, cultura Pop é mais minha praia. E também não sou especialista, não - só acho meu pitaco tão bom quanto o de muitos aí que eu leio. Como minha carreira literária, sequências não pedem vínculo artístico nenhum. Pode ser lixo, sim. A finalidade é fazer dinheiro.
Mesmo que custe o respeito dos fãs. Fazer o quê?
Inacreditável, por exemplo, ver Anthony
Perkins como Norman
Bates nos três filmes coloridos que carregaram o nome do icônico
Psicose. Lançados entre 1983 e 1990, até que chamaram atenção -
provavelmente no bojo de outras franquias de suspense/terror. Todos
muito distantes do original - de 1960, dirigido por
Alfred Hitchcock. Esse nem foi sucesso de bilheteria. Certamente, as sequências reuniram públicos bem maiores.
E, ao menos, serviram de base pra boa série Bates
Motel.
A gente sabe que o sucesso hollywoodiano não tem nada a ver com qualidade. Os filmes de terror da safra 1980-90s que o digam: Sexta-Feira 13, A Hora do Pesadelo, Brinquedo Assassino - e outros - eram sempre mais do mesmo. Mas tiveram vida longa - vai entender! Não foi assim em outros gêneros. Foram muitos os filmes bacanas, iluminados por bilheterias generosas, que acabaram em blackout de público por conta de suas sequências.
Na verdade, viraram sequelas.
A lista é grande. Até hoje, não houve um Superman que prestasse que não o de 1978 - e há quem diga que nem ele. O Alien e o Blade Runner originais, ambos do Ridley Scott, bem que poderiam ter ficado neles mesmos. E pra que fazer um novo Saltimbancos Trapalhões, meu Deus? O mesmo vale pras neochanchadas brasileiras chanceladas pela Globo Filmes. Fazer o que, se os produtores acreditam que podem seguir lucrando? Essa certeza também já construiu imensos fracassos.
Lembrei de alguns. Talvez você também recorde.
- A História de Oliver, de 1978, foi a malfadada tentativa de reativar a peninha do público pelo protagonista de Love Story. Viuvão, o personagem de Ryan O'Neil mostrava como a vida seguiu pra ele, vivendo seus conflitos por um novo amor, tentando se reconciliar com o pai etc etc etc. Mas demorou demais - foram oito anos de hiato entre um filme e outro;
- Esse foi muito ruim! King Kong 2 veio após o remake de um clássico do cinema mudo, muito bem recebido pelo público em 1976. Mas a historinha da recuperação dele após a queda do World Trade Center, uma década depois, não convenceu. Muito menos a descoberta de uma "Queen" Lady Kong. Péssimo. Por esse e outros fracassos, o diretor/produtor Dino de Laurentiis faliu;
- Highlander tinha uma proposta bacana de ficção/fantasia. A mão boa na direção, o bom elenco e a poderosa trilha do Queen ainda permitiram uma sobrevida. Mas o roteiro da primeira continuação era um lixo: deram até um jeito de trazer de volta o personagem de Sean Connery, morto no filme anterior. E tudo virou uma bobaginha sci-fi nada a ver. A marca, sim, parecia imortal - desde 1986, foram cinco longas e até um seriado em 2007. Nenhum acompanhou o sucesso do original;
- Grease II foi outro erro grotesco, coitado. Se o filme original já não era grande coisa, pelo menos conseguiu entrar pro imaginário do público por conta da poderosa trilha sonora. Obviamente, o carisma de John Travolta e Olivia Newton John ajudaram bastante. Mas eles ficaram de fora. Nem trilha sonora, nem mesmo a linda Michelle Pfeiffer, nada salvou o musical de um estrondoso fracasso. Mas há quem curta, né?;
- Depois do Oscar de melhor ator em 1978 pelos Embalos de Sábado à Noite, os estúdios tentaram ressuscitar o Travolta na década seguinte. O título em inglês - Stayin Alive - expressava isso muito bem - tô vivo! Mas a continuação foi um festival de equívocos. Imaginem Tony Manero, garotão do Brooklyn e ícone de uma geração perdidona, sarado e de sunguinha, dançando na Broadway? Nem os Bee Gees, que saíram do ostracismo graças aos Embalos originais, conseguiram erguer mais este. Mas há quem curta. Eu, por exemplo. Adoro a trilha.
por Bob LeMont
De todos os que você citou, salvo "Staying alive", exatamente, pela trilha e pelas cenas de dança. Na época, adorei! E revi com a filhota outro dia.
ResponderExcluir