17/04/2018

ENCONTRO


Começara a se arrumar não era nem seis da tarde. Foi chegando do trabalho, logo entrando pro chuveiro, para um banho longo. Gostava de sentir a água quente escorrendo em seu rosto. Os cabelos compridos davam trabalho para secar, mas não abria mão desse prazer às sextas. Ainda mais numa noite como aquela!

Mergulhou em seus cremes. Passou em várias partes do corpo, pois, não sei se vocês homens sabem disso, há loções diferentes para cada pedacinho de mulher. Uma evita rugas, outra amacia a pele, outra serve apenas para dar uma sensação de frescor. As moças que vendem essas coisas são tão persuasivas - difícil resistir a tanta promessa de bem estar, em prestações que não apertam tanto. Exceto quando acumulam. Mas se for para posar diante de um Oficial de Justiça, que seja com uma pele de bebê... que mal há?

Pintou sobrancelha. Pôs um brilho nos lábios. Rouge era pouco, suficiente pra cortar certa palidez. Pequenas olheiras desaparecem com aquele "pozinho mágico" comprado da Natura. Uma fragrância suave, borrifada atrás do pescoço - somente para temperar aquela carninha tão macia. Não foi difícil escolher o perfume certo.

Sabia exatamente do que ele gostava.

Mais difícil foi escolher a roupa. No armário tudo parecia ou velho demais ou novo de menos. Uma mulher na meia idade não deveria se sentir tão insegura quanto uma adolescente no cio. Acalmou-se e tentou se concentrar numa produção madura. Teria de vestir algo que pudesse transmitir a exata mensagem do que esperava para aquela jornada.

Nada que a escondesse tanto, nem algo que deixasse pele demais à mostra. Queria se sentir nem tão invadida pelo olhar, mas nem tão pouco procurada. Quando se olhou pela última vez, após sete tentativas frustradas, quase chorou.

Estava realmente demais.

- Está linda, meu amor.
- Ah, Ricky... obrigada...
- Se produziu toda, só pra mim?
- Que é isso. Uma maquiagenzinha, muito básica.
- Esse vestido eu não conhecia.
- Gostou?
- Levanta, dá uma voltinha...

Levantou-se e deu uma voltinha. Lenta, algo sensual.

- Ficou muito bem em você.
- Obrigada.
- ...
- Ricky?
- Oi?
- Te amo.
- Eu também te amo, meu amor.
- ...
- Amor?
- Uhm?
- Eu preciso dormir cedo hoje.
- ...
- Não faz essa cara. Sabe que eu trabalho o dia inteiro e...
- ... Eu me preparei tanto...
- ... que dou plantão no hospital este fim de semana...
- ... e você está sempre com tanta...
- ... então, não começa a reclamar!
- ...pressa!
- ... !
- ...
- Podemos?
- Não sei se quero assim, desse jeito. Toda vez você diz que vai ter que dormir. Eu acho que...
- ...o que você acha? Que eu tô mentindo pra você? Que eu não sinto nada por você?
- Não! Não é isso.
- Fala o que você acha!
- ...
- Fala. Fala logo.
- ... !
- Vai começar com a baboseira toda de que eu sou casado, né?
- ... ?!
- ... ?
- Eu acho que é, sim... só acho...
- Ah, meu Deus...
- Você não tem tempo pra nós. Você está sempre querendo encontros rápidos. Da última vez você nem disse um “tchau” que fosse, Ricky! Simplesmente se foi.
- Escuta.
- Uhm?
- ...
- ...
- Tá escutando? Parou de choramingar?
- ...
- Eu vou me embora.
- ... !
- Esse negócio tá ficando muito complicado. Você tá muito possessiva e sabe que eu sou um cara muito dedicado ao meu trabalho. Tô com 28 anos, uma vida inteira pela frente, não quero ninguém me dando ordem, não.
- ... !!!
- Tchau!!!
- Espera!!!
- ...
- Não.
- ...
- Olha. Olha como minha pele está bonita.
- Uhm.
- Do jeito que você gosta. Olha minha nuca? Respira. Fundo.
- Channel No5?
- Ahm Ham..

Foi o bastante para Ricky abrir a braguilha da calça branca. Seu pênis, duro como uma rocha, saltou quase que imediatamente. Ele passou a alisa-lo, primeiro lentamente. Depois um pouco mais rápido. Depois novamente devagar, enquanto ela desmontava, peça por peça, o personagem que preparou exclusivamente para mais aquela noite.

Não pensou em chorar. Pelo contrário. Sorria a cada expressão de prazer que saltava do rosto de seu amante. Não era de reter o gozo por muito tempo. Mais uns dez minutos e logo estaria acabado. Ele mantinha por perto material cirúrgico, que absorve bem o esperma e pode ser descartado com todo resto, sem perigo de infecção.

Pelo menos, era o que ele dizia, enquanto mostrava a ela o volume do prazer gerado a cada encontro. A bem da verdade, Ricky não ejaculava tanto assim. Mas adorava se gabar e receber um olhar de espanto de sua querida. Coisa de homem imaturo, que não sabe ver o quanto essas bobagens não afetam em nada o que uma mulher sente por seu homem.

Ela arrancou a blusinha de alça somente depois de ouvir...

- Te amo.
- O que?! Repete.
- Ahh...fuuuu... ah...ah...
- Re-pe-te!
- Tira logo.
- ...!
- Fffffuuu... Te amo... Te am..o..o..

Ele não conseguia suportar a visão daqueles peitos fartos, de auréolas tão rosadinhas e apetitosamente bicudas. Era demais. Ricky explodia seu tesão. Na mão. E mostrava a ela.
- Olha quanto!
- ...
Ela? Só sorria. Tinha certeza. Um dia, eles iriam se casar. Ter filhos. Realizaria com ele esse grande sonho, que passou batido pela adolescência, fase adulta e agora, depois dos 40, estava prestes a acontecer. Um dia. Afinal, Ricky era perfeito pra ela. Talvez precisassem conversar mais, trocar mais ideias, como faziam no começo. Mas ele estava sempre apressado.

- Preciso...
- ... ir? Tá bom. Você acorda cedo.
- ...!
- ...?
- Te ligo.
- Nunca liga. Promete e não...
- ... mas porra, para de me detonar! Que caralho!!!
- ...
- Ligo, tá? De tarde.
- Viu.
- ... uhm...
- ...
- De tarde não, que vou buscar uns amigos no aeroporto de Guarulhos. De noite.
- Tá.
Terminou de puxar o zíper.
- De noite, então.
- ...
- ...
- Guarulhos? Mas você não disse que está em Belo Hori...?

Não teve resposta.

- ...

Desligou a webcam, depois o computador. Tudo muito vagarosamente. Recolheu cada peça de roupa e recolocou nas gavetas, nos cabides certos. Pôs aquele pijaminha de cetim, o que havia ganho da tia de amigo oculto. Às vezes, por causa dessa coisa toda com o Ricky, se sentia um pouco mal com ela mesma. Mas isso passava. Talvez ele não fosse o cara. Talvez.

- Vou cancelar essa merda dessa internet!

Nunca cancelou.
 

por Bob LeMont

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