Vá lá. A natureza é sábia. Muitas espécies não precisam elaborar muito para garantir a sobrevivência. Outras surpreendem pela engenhosidade. Estruturas com gravetos e lama servem como ninhos a alguns pássaros; conchas viram casca para proteção para certas criaturas aquáticas. E por aí vamos.
Os Bonobos do Congo são primatas capazes de ir um pouco além. Usam
pedras para quebrar cascas duras e pequenos galhos para buscar insetos no
interior de árvores. Tudo tem um só objetivo: comer, sobreviver. Há relatos de
que produzem lanças. Transformam o que tem à mão, basicamente, em prol da preservação
da espécie.
Os únicos animais que transcenderam
necessidades mais básicas de sobrevivência fomos nós, os bichos humanos.
À medida em que nosso cérebro - mais desenvolvido (!) - foi ampliando a
capacidade de abstrair e inventar, quebramos uma regra natural. Hábitos
alimentares já não eram os únicos a mover nossos processos criativos. De repente,
precisávamos da escrita, da matemática e de outros processos singulares à nossa espécie para descrever o mundo tal e qual o
percebíamos. Inventamos a arte de inventar.
Esse ciclo fabuloso de invencionismos saltou a níveis incomparáveis a
partir das revoluções Industriais. Pra quem está contando, parece que chegamos já à quarta. Ou seria a quinta? Enfim! Nós, bichos humanos, começamos a produzir - em escala
sem igual - tudo que nossa capacidade de realizar sonhos tornasse possível.
Passamos a transformar a natureza com mais eficiência para suprir novas e antigas necessidades. E isso nos trouxe um baita problema.
O que fazer com o lixo?
Nós, bichinhos tão inteligentes, somos, até hoje, incapazes de resolver a
equação (Produção) x (Detritos). Toneladas de despojos, restolhos de nossos desejos, ambições de consumo e status, seguem
por aí. Nós, bichos humanos, inventamos a poluição. Pior! Boa parte dessas raspas e restos é tóxica, impactando diretamente no
meio-ambiente. O lixo se acumula na terra, na água e no
céu. E não apenas.
Dito isso, ao tema!
Dito isso, ao tema!
Quanto mais longe vamos, mais distante levamos junto nossa sujeira. Chegamos ao
espaço nos anos 1950 e já deixamos em nossa órbita toneladas de porcarias
industrializadas – em especial restos de satélites. E nem adianta dizer que vão
voltar, por uma questão de física. A cada ano, mais e mais artefatos decolam. E de
toda parte. Estima-se que há mais de 7,6 mil toneladas de lixo espacial vagando em volta da Terra.
Com medo - sei lá! - daqueles marcianinhos da cara verde das revistinhas de ficção, humanos (cientistas, políticos e militares
de diferentes povos) fomos além. Inventamos programas espaciais pra mostrar quem
mandava neste pedação azul de terra e água boiando no espaço. Chegamos até a Lua, onde sondas
perfuraram o solo, astronautas colheram pós e pedras. Nunca ninguém encontrou
nada. Sequer vestígios dos tais marcianos. Nem de lixo de outras espécies.
Serviu para desenvolver muitas tecnologias, ok - mas a que preço?
Uma publicação de 2012 da revista The Atlantic trouxe dados
assustadores sobre o que fizemos – e aí considerando “nós” enquanto espécie - com
a nossa Lua. China e Japão também mantêm programas espaciais que promoveram
voos orbitais e exploração do solo lunar em veículos não-tripulados. Mas foram
os soviéticos e estadunidenses que levaram sua corrida espacial longe demais -
esqueceram de varrer a sujeira.
Como não dá pra ir e voltar com tudo, a lista-suja passa de 18
toneladas de “sobras” das diversas missões – tripuladas ou não – que tocaram o
solo lunar. E tem de tudo. A saber, segundo a publicação:
• Mais de 70 espaçonaves, incluindo rovers, módulos e orbitadores
quebrados
• 5 bandeiras americanas
• 2 bolas de golfe
• 12 pares de botas
• câmeras de tv
• revistas de filmes
• 96 sacos de (ugh...) urina, fezes e vômitos
• numerosas câmeras e acessórios
• vários dardos improvisados
• vários martelos, pinças, ancinhos e pás
• mochilas
• cobertores isolantes
• toalhas utilitárias
• toalhetes úmidos usados
• kits de higiene pessoal (!)
• pacotes vazios de alimentos espaciais (!!)
• uma fotografia da família do astronauta Apollo 16 Charles Duke
• a pena de Baggin, o falcão mascote da academia da força aérea, usada
no famoso experimento da "queda de pena e do martelo" da Apollo 15
• uma pequena escultura de alumínio, em homenagem aos
"astronautas caídos" americanos e soviéticos, que morreram na corrida
espacial - deixada pela tripulação da Apollo 15
• o patch da missão de Apollo 1, nunca lançada, que terminou
prematuramente quando as chamas invadiram o módulo de comando durante um
exercício de treinamento em 1967, matando três astronautas
• um pequeno disco de silício com mensagens de boa vontade de 73
líderes mundiais, deixado na lua pela tripulação da Apollo 11
• pino de prata, deixado pelo astronauta Alan Bean da missão Apollo 12
• a medalha que honra os cosmonautas soviéticos Vladimir Komarov e
Yuri Gagarin
• um ramo de oliveira dourada deixada pela tripulação do Apollo 11
Fico imaginando quando os
marcianos, que obviamente (duhhh) vivem escondidos abaixo da crosta de Marte, vierem nos invadir de verdade. Vão, claro, pousar na Lua pra montar
ali uma base provisória tal e coisa... e darão de cara com aquela imundice.
Fico pensando naqueles tampinhas cabeçudos, esverdeados. Eles morrendo de nojo com aquela "lixaiada" lunar. Eu também morro, mas de vergonha. Por toda humanidade, sabe? E se algum desses marcianinhos duvidava do sucesso da invasão, naquele momento teria plena certeza. Poderiam seguir tranquilos.
Fico pensando naqueles tampinhas cabeçudos, esverdeados. Eles morrendo de nojo com aquela "lixaiada" lunar. Eu também morro, mas de vergonha. Por toda humanidade, sabe? E se algum desses marcianinhos duvidava do sucesso da invasão, naquele momento teria plena certeza. Poderiam seguir tranquilos.
Não existe vida inteligente na
Terra.
Por Bob LeMont
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