24/04/2018

SINOPSES




Bicho, o que não me falta é ideia pra filme. Curtas, médias, longas. Sem miséria! Metragem não importa! Seriam todos grandes sucessos, tenho certeza. 

Só sinopse foda. Senão, vejamos:


- Todos os personagens de Samuel L. Jackson confinados em um avião apinhado de cobras. A aeronave - pilotada por John Travolta, com Olívia Newton-John como aeromoça(?) - está prestes a explodir. Apenas um deles poderá escapar. Isso é Pulp Fiction 2 – De Volta aos Tempos da Brilhantina. Um crossover inesquecível. A cena de John e Olivia cantando e dançando enquanto o avião mergulha para o fim será épica.
 

- O ônibus de um grupo de Axé quebra no meio de uma estrada deserta. É sexta-feira treze e chove torrencialmente. Dançarinas e vocalistas não sabem, mas estão prestes a ser atacados por uma criatura do mal. Será o Jason? Será o Freddy Kruegger? “– Não, ordinááááário!!! É o brinquedo assassiiiino!!!”  Vem aí: É o Chucky! – o Filme 
 

- Um italiano, um espanhol, um americano, um alemão e um português estão reunidos em uma sala misteriosa, quando são surpreendidos pela chegada de outro grupo: um budista, um padre, um rabino, um pastor e um macumbeiro. De repente, chegam também o Joãozinho, um gay, uma loira, um gordo e um fanho. Eles percebem que, na verdade... estão todos dentro de uma anedota! E que ela  pode explodir a qualquer momento, pelas mãos de uma misteriosa plateia... politicamente correta! A Piada Mortal vai fazer o público pensar duas vezes antes de rir.
 

- Em uma galáxia muito, muito, mas muito distante mesmo, um ex-Beatle luta pela valorização dos bateristas no universo do Rock. Ringo Starr Wars terá no elenco - além do protagonista óbvio – as estrelas Phil Collins, Igor Cavalera, Paulinho Fonseca, Haroldo Ferreti e outros batutas das baquetas. Sem falar nas participações especiais de Dave Grohl, no papel de Chewbacca, e de Lobão como Darth Vader. Sucesso garantido.

- No calçadão da Barra da Tijuca, um grupo de turistas em visita ao Rio de Janeiro pressente que será assaltado por um arrastão que se aproxima. Enquanto isso, PMs bem armados e furiosos tomam caldo de cana na barraca do Pepê, e não parecem dispostos a finalizar com a resenha animada tão cedo, para prestar socorro a quem quer que seja. Corra que a Polícia Tá Nem Aí é um spinoff da famosa franquia de comédia norte-americana. 


 A diferença é que esse filme a gente vê todo dia e não tem graça nenhuma...




Por Bob LeMont

17/04/2018

ENCONTRO


Começara a se arrumar não era nem seis da tarde. Foi chegando do trabalho, logo entrando pro chuveiro, para um banho longo. Gostava de sentir a água quente escorrendo em seu rosto. Os cabelos compridos davam trabalho para secar, mas não abria mão desse prazer às sextas. Ainda mais numa noite como aquela!

Mergulhou em seus cremes. Passou em várias partes do corpo, pois, não sei se vocês homens sabem disso, há loções diferentes para cada pedacinho de mulher. Uma evita rugas, outra amacia a pele, outra serve apenas para dar uma sensação de frescor. As moças que vendem essas coisas são tão persuasivas - difícil resistir a tanta promessa de bem estar, em prestações que não apertam tanto. Exceto quando acumulam. Mas se for para posar diante de um Oficial de Justiça, que seja com uma pele de bebê... que mal há?

Pintou sobrancelha. Pôs um brilho nos lábios. Rouge era pouco, suficiente pra cortar certa palidez. Pequenas olheiras desaparecem com aquele "pozinho mágico" comprado da Natura. Uma fragrância suave, borrifada atrás do pescoço - somente para temperar aquela carninha tão macia. Não foi difícil escolher o perfume certo.

Sabia exatamente do que ele gostava.

Mais difícil foi escolher a roupa. No armário tudo parecia ou velho demais ou novo de menos. Uma mulher na meia idade não deveria se sentir tão insegura quanto uma adolescente no cio. Acalmou-se e tentou se concentrar numa produção madura. Teria de vestir algo que pudesse transmitir a exata mensagem do que esperava para aquela jornada.

Nada que a escondesse tanto, nem algo que deixasse pele demais à mostra. Queria se sentir nem tão invadida pelo olhar, mas nem tão pouco procurada. Quando se olhou pela última vez, após sete tentativas frustradas, quase chorou.

Estava realmente demais.

- Está linda, meu amor.
- Ah, Ricky... obrigada...
- Se produziu toda, só pra mim?
- Que é isso. Uma maquiagenzinha, muito básica.
- Esse vestido eu não conhecia.
- Gostou?
- Levanta, dá uma voltinha...

Levantou-se e deu uma voltinha. Lenta, algo sensual.

- Ficou muito bem em você.
- Obrigada.
- ...
- Ricky?
- Oi?
- Te amo.
- Eu também te amo, meu amor.
- ...
- Amor?
- Uhm?
- Eu preciso dormir cedo hoje.
- ...
- Não faz essa cara. Sabe que eu trabalho o dia inteiro e...
- ... Eu me preparei tanto...
- ... que dou plantão no hospital este fim de semana...
- ... e você está sempre com tanta...
- ... então, não começa a reclamar!
- ...pressa!
- ... !
- ...
- Podemos?
- Não sei se quero assim, desse jeito. Toda vez você diz que vai ter que dormir. Eu acho que...
- ...o que você acha? Que eu tô mentindo pra você? Que eu não sinto nada por você?
- Não! Não é isso.
- Fala o que você acha!
- ...
- Fala. Fala logo.
- ... !
- Vai começar com a baboseira toda de que eu sou casado, né?
- ... ?!
- ... ?
- Eu acho que é, sim... só acho...
- Ah, meu Deus...
- Você não tem tempo pra nós. Você está sempre querendo encontros rápidos. Da última vez você nem disse um “tchau” que fosse, Ricky! Simplesmente se foi.
- Escuta.
- Uhm?
- ...
- ...
- Tá escutando? Parou de choramingar?
- ...
- Eu vou me embora.
- ... !
- Esse negócio tá ficando muito complicado. Você tá muito possessiva e sabe que eu sou um cara muito dedicado ao meu trabalho. Tô com 28 anos, uma vida inteira pela frente, não quero ninguém me dando ordem, não.
- ... !!!
- Tchau!!!
- Espera!!!
- ...
- Não.
- ...
- Olha. Olha como minha pele está bonita.
- Uhm.
- Do jeito que você gosta. Olha minha nuca? Respira. Fundo.
- Channel No5?
- Ahm Ham..

Foi o bastante para Ricky abrir a braguilha da calça branca. Seu pênis, duro como uma rocha, saltou quase que imediatamente. Ele passou a alisa-lo, primeiro lentamente. Depois um pouco mais rápido. Depois novamente devagar, enquanto ela desmontava, peça por peça, o personagem que preparou exclusivamente para mais aquela noite.

Não pensou em chorar. Pelo contrário. Sorria a cada expressão de prazer que saltava do rosto de seu amante. Não era de reter o gozo por muito tempo. Mais uns dez minutos e logo estaria acabado. Ele mantinha por perto material cirúrgico, que absorve bem o esperma e pode ser descartado com todo resto, sem perigo de infecção.

Pelo menos, era o que ele dizia, enquanto mostrava a ela o volume do prazer gerado a cada encontro. A bem da verdade, Ricky não ejaculava tanto assim. Mas adorava se gabar e receber um olhar de espanto de sua querida. Coisa de homem imaturo, que não sabe ver o quanto essas bobagens não afetam em nada o que uma mulher sente por seu homem.

Ela arrancou a blusinha de alça somente depois de ouvir...

- Te amo.
- O que?! Repete.
- Ahh...fuuuu... ah...ah...
- Re-pe-te!
- Tira logo.
- ...!
- Fffffuuu... Te amo... Te am..o..o..

Ele não conseguia suportar a visão daqueles peitos fartos, de auréolas tão rosadinhas e apetitosamente bicudas. Era demais. Ricky explodia seu tesão. Na mão. E mostrava a ela.
- Olha quanto!
- ...
Ela? Só sorria. Tinha certeza. Um dia, eles iriam se casar. Ter filhos. Realizaria com ele esse grande sonho, que passou batido pela adolescência, fase adulta e agora, depois dos 40, estava prestes a acontecer. Um dia. Afinal, Ricky era perfeito pra ela. Talvez precisassem conversar mais, trocar mais ideias, como faziam no começo. Mas ele estava sempre apressado.

- Preciso...
- ... ir? Tá bom. Você acorda cedo.
- ...!
- ...?
- Te ligo.
- Nunca liga. Promete e não...
- ... mas porra, para de me detonar! Que caralho!!!
- ...
- Ligo, tá? De tarde.
- Viu.
- ... uhm...
- ...
- De tarde não, que vou buscar uns amigos no aeroporto de Guarulhos. De noite.
- Tá.
Terminou de puxar o zíper.
- De noite, então.
- ...
- ...
- Guarulhos? Mas você não disse que está em Belo Hori...?

Não teve resposta.

- ...

Desligou a webcam, depois o computador. Tudo muito vagarosamente. Recolheu cada peça de roupa e recolocou nas gavetas, nos cabides certos. Pôs aquele pijaminha de cetim, o que havia ganho da tia de amigo oculto. Às vezes, por causa dessa coisa toda com o Ricky, se sentia um pouco mal com ela mesma. Mas isso passava. Talvez ele não fosse o cara. Talvez.

- Vou cancelar essa merda dessa internet!

Nunca cancelou.
 

por Bob LeMont

10/04/2018

QUANDO OS MARCIANOS VIEREM





Vá lá. A natureza é sábia. Muitas espécies não precisam elaborar muito para garantir a sobrevivência. Outras surpreendem pela engenhosidade. Estruturas com gravetos e lama servem como ninhos a alguns pássaros; conchas viram casca para proteção para certas criaturas aquáticas. E por aí vamos. 

Os Bonobos do Congo são primatas capazes de ir um pouco além. Usam pedras para quebrar cascas duras e pequenos galhos para buscar insetos no interior de árvores. Tudo tem um só objetivo: comer, sobreviver. Há relatos de que produzem lanças. Transformam o que tem à mão, basicamente, em prol da preservação da espécie.

Os únicos animais que transcenderam  necessidades mais básicas de sobrevivência fomos nós, os bichos humanos.

À medida em que nosso cérebro - mais desenvolvido (!) - foi ampliando a capacidade de abstrair e inventar, quebramos uma regra natural. Hábitos alimentares já não eram os únicos a mover nossos processos criativos. De repente, precisávamos da escrita, da matemática e de outros processos singulares à nossa espécie para descrever o mundo tal e qual o percebíamos. Inventamos a arte de inventar.

Esse ciclo fabuloso de invencionismos saltou a níveis incomparáveis a partir das revoluções Industriais. Pra quem está contando, parece que chegamos já à quarta. Ou seria a quinta? Enfim! Nós, bichos humanos, começamos a produzir - em escala sem igual - tudo que nossa capacidade de realizar sonhos tornasse possível. Passamos a transformar a natureza com mais eficiência para suprir novas e antigas necessidades.  E isso nos trouxe um baita problema.

O que fazer com o lixo?

Nós, bichinhos tão inteligentes, somos, até hoje, incapazes de resolver a equação (Produção) x (Detritos). Toneladas de despojos, restolhos de nossos desejos, ambições de consumo e status, seguem por aí. Nós, bichos humanos, inventamos a poluição. Pior! Boa parte dessas raspas e restos é tóxica, impactando diretamente no meio-ambiente. O lixo se acumula na terra, na água e no céu. E não apenas.

Dito isso, ao tema!

Quanto mais longe vamos, mais distante levamos junto nossa sujeira. Chegamos ao espaço nos anos 1950 e já deixamos em nossa órbita toneladas de porcarias industrializadas – em especial restos de satélites. E nem adianta dizer que vão voltar, por uma questão de física. A cada ano, mais e mais artefatos decolam. E de toda parte. Estima-se que há mais de 7,6 mil toneladas de lixo espacial vagando em volta da Terra.

Com medo - sei lá! - daqueles marcianinhos da cara verde das revistinhas de ficção, humanos (cientistas, políticos e militares de diferentes povos) fomos além. Inventamos programas espaciais pra mostrar quem mandava neste pedação azul de terra e água boiando no espaço. Chegamos até a Lua, onde sondas perfuraram o solo, astronautas colheram pós e pedras. Nunca ninguém encontrou nada. Sequer vestígios dos tais marcianos. Nem de lixo de outras espécies.

Serviu para desenvolver muitas tecnologias, ok - mas a que preço?

Uma publicação de 2012 da revista The Atlantic trouxe dados assustadores sobre o que fizemos – e aí considerando “nós” enquanto espécie - com a nossa Lua. China e Japão também mantêm programas espaciais que promoveram voos orbitais e exploração do solo lunar em veículos não-tripulados. Mas foram os soviéticos e estadunidenses que  levaram sua corrida espacial longe demais - esqueceram de varrer a sujeira.  

Como não dá pra ir e voltar com tudo, a lista-suja passa de 18 toneladas de “sobras” das diversas missões – tripuladas ou não – que tocaram o solo lunar. E tem de tudo. A saber, segundo a publicação:

• Mais de 70 espaçonaves, incluindo rovers, módulos e orbitadores quebrados
• 5 bandeiras americanas
• 2 bolas de golfe
• 12 pares de botas
• câmeras de tv
• revistas de filmes
• 96 sacos de (ugh...) urina, fezes e vômitos
• numerosas câmeras e acessórios
• vários dardos improvisados
• vários martelos, pinças, ancinhos e pás
• mochilas
• cobertores isolantes
• toalhas utilitárias
• toalhetes úmidos usados
• kits de higiene pessoal (!)
• pacotes vazios de alimentos espaciais (!!)
• uma fotografia da família do astronauta Apollo 16 Charles Duke
• a pena de Baggin, o falcão mascote da academia da força aérea, usada no famoso experimento da "queda de pena e do martelo" da Apollo 15
• uma pequena escultura de alumínio, em homenagem aos "astronautas caídos" americanos e soviéticos, que morreram na corrida espacial - deixada pela tripulação da Apollo 15
• o patch da missão de Apollo 1, nunca lançada, que terminou prematuramente quando as chamas invadiram o módulo de comando durante um exercício de treinamento em 1967, matando três astronautas
• um pequeno disco de silício com mensagens de boa vontade de 73 líderes mundiais, deixado na lua pela tripulação da Apollo 11
• pino de prata, deixado pelo astronauta Alan Bean da missão Apollo 12
• a medalha que honra os cosmonautas soviéticos Vladimir Komarov e Yuri Gagarin
• um ramo de oliveira dourada deixada pela tripulação do Apollo 11

Fico imaginando quando os marcianos, que obviamente (duhhh) vivem escondidos abaixo da crosta de Marte, vierem nos invadir de verdade. Vão, claro, pousar na Lua pra montar ali uma base provisória tal e coisa... e darão de cara com aquela imundice.

Fico pensando naqueles tampinhas cabeçudos, esverdeados. Eles morrendo de nojo com aquela "lixaiada" lunar. Eu também morro, mas de vergonha. Por toda humanidade, sabe? E se algum desses marcianinhos duvidava do sucesso da invasão, naquele momento teria plena certeza. Poderiam seguir tranquilos.

Não existe vida inteligente na Terra.


Por Bob LeMont

LINGUA

A língua, esse pedaço de carne cercado de gente por todos os lados.  A turma da biologia vai dizer que ela não passa de um processo muscular...