06/04/2022

LINGUA


A língua, esse pedaço de carne cercado de gente por todos os lados. 

A turma da biologia vai dizer que ela não passa de um processo muscular móvel e carnudo do assoalho da boca da maioria dos vertebrados. E que possui órgãos terminais sensoriais e pequenas glândulas. Ok, espertinho da Wikipedia. Mas uma língua é muito mais do que terminais nervosos. 

Pode não ser a parte do corpo mais sensível. 
Mas, certamente, é a mais versátil. 

Havia os desenhos rupestres que, de certa forma, também contavam um pouco do cotidiano das culturas antigas. Algo que levou a um sistema de símbolos, como vimos entre egípcios e mesmo os sumérios. A escrita nos permitiu articular ideias, traduzindo pensamentos em palavras.

Mas muito, muito antes, era a língua quem fazia esse papel. Sim, a tradição oral entre humanos é anterior. Histórias ouvidas ou vividas eram passadas de geração para geração, perpetuadas em rodas de conversa, que só muitos séculos depois se transformariam em história escrita.

Pra dar um exemplo: historiadores garantem que muito antes de A Ilíada e A Odisseia serem escritas, elas eram recitadas ou mesmo cantadas. Até que Homero pudesse escreve-las (no caso, se for verdade, plagia-las). Assim, na lábia, nasceram a maioria das mitologias e religiões.

Quando os portugueses invadiram o Brasil, em meados de 1500, os índios brasileiros não conheciam alfabeto algum. Não é demérito. Alguns políticos, youtubers e BBBs não conhecem até hoje e são amados por milhões. Para todos esses humanos iletrados, a melhor alternativa ainda é aprender (ao menos) a falar.

E foi a língua, esse pedaço de carne trêmula - com ou sem tucupi - na boca da gente, a grande responsável pela verbalização. A grosso modo: as cordas vocais emitem sons aleatórios que chegam até a boca. 

E é o movimento da danada que lapida o verbo. 

E se, sem ela, ninguém iria sequer formar uma palavra ou uma ideia, que dirá uma frase musical? Não haveria o la-la-la. Nem o Lula-la. Nem o Ei Bolsonaro vai tomar no cu, que a gente já lê no ritmo.

Sem a língua, pense nisso: nós não sentiríamos os sabores das coisas. 

As papilas gustativas estão todas lá! São algo entre 200 e 400 papilas que lembram microcogumelos. Cada uma tem de três a cinco botões gustativos, isso dá uns 1.500 receptores. Tão versáteis, que não só captam o sabor mas também são sensíveis à temperatura. 

A língua, a língua. 

Sem ela, não seria possível umidificar os lábios no tempo seco. Não faríamos aquela careta boba que as crianças morrem de rir. Nós não morreríamos de rir do Debi & Lóide na neve. 

Os beijos não seriam tão prazerosos assim. Nem uma lambida na nuca. Ou em mamilos. Nem o sexo oral. Esse nem existiria, na verdade. 

Não colaríamos os selos nas cartas, já pensou? 

Ok, eu sou um cara das antigas. 

Não lembro mais o que me motivou a escrever sobre ela. Talvez estivesse sentindo falta do toque de outra linguinha sem vergonha? Ou, sei lá, quem sabe estivesse inspirado e quisesse falar por horas e horas? Ou cantar? La-la-la-la!!! Ou pedir um Lula-la mais uma vez? 

Ou!

Talvez, apenas talvez, estivesse com fome e me lembrado de uma deliciosa língua de boi ensopada no bar do saudoso Bolinha, no Santa Tereza? De Minas. De Milton. Do Rosa. 

Eu já disse, sou um cara das antigas. Do tempo do Caetano Veloso e da Elza Soares. Da Flor do Lácio, do sambódromo. Da lusa América Latina em pó. 

O que quer, o que pode essa língua?


por Bob LeMont

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