26/06/2018

BOB NA COPA (15) - NÃO FALO DE NEYMAR

MOSCOKE, RÚSSIA - 26 JUN 2018 - Ressaca monstro. Só Coca-Cola nas próximas horas. A sensação é de que os russos bebem muito pra comemorar vitórias, mas bebem mais ainda pra esquecer derrotas. Eu não consigo acompanhar essa gente. Conheço meu fígado há muito tempo e ele dá a real pra mim quando é hora de parar.  E bebe-se muito, em toda parte. Chega a faltar cerveja. Claro, o volume de público também cresceu consideravelmente por conta do evento Copa. Sabemos que o europeu bebe mais que qualquer sulamericano, mas na Rússia isso extrapola qualquer sentido de festa. 


A Coca e a Copa: um grande vazio entre elas

É um problema de saúde, mesmo. 

São 15,1 litros de álcool, por pessoa, ao ano. A terra de Dostoiévski (que escreveu "bebo porque quero sofrer em dobro!") e de Maiakovski (autor da frase "melhor morrer de vodka que de tédio!") é a quarta colocada na tabela da OMS, que faz o consumo no Brasil parecer modesto - 8,1 l/p.a. Não é pouco. Mas, se você aí não bebe, provavelmente algum russo estará fazendo isso no seu lugar. E eles não estão sozinhos, não esqueçam do topo da tabela. O álcool é problema seríssimo também em outros países do antigo bloco soviético, onde o consumo é ainda maior. Bielorrússia, Moldávia e Lituânia lideram o ranking.

Problema antigo

"E os porcos somos nós!" diz a propaganda
Nos tempos do Gorbachev, os poucos bares autorizados a vender só o podiam entre duas da tarde e sete da noite. Stálin já havia tentado antes e deu na mesma. Mesmo nos tempos do Império. Medidas meramente restritivas só serviram pra piorar o quadro. Como nos EUA dos anos 1920, começaram a fabricar o goró no fundo do quintal. Ou então estocavam, pra beber em casa. Pra muitos russos, beber é algo cultural. Afinal, entram na vodka desde a idade média. Uma forma até de se aquecer, em um país gelado quase o ano todo.

Está, literalmente, no sangue deles. 

Talvez por isso haja tantos casos de dopagem no esporte. São escândalos após escândalos que, espera-se, não repitam essa dose (opa!) na Copa do Mundo. O desempenho da seleção local surpreendeu no começo, mas a queda diante dos uruguaios colocou as coisas nos devidos patamares. Tomara! Sobre o álcool, o atual governo tenta fazer a parte dele - promove campanhas, proíbe consumo em público, restringe a propaganda. E Vladimir Putin dita exemplos. Posa de atleta, sempre ativo e saudável. Quase não bebe em público.

Mas se precisar reprimir, deixa com ele.

Putin curte sua chapanhota de quando em vez
Há muito trabalho. A Rússia ainda é o segundo mercado consumidor de álcool e cigarros na Terra. Vícios que matam. E muito. Do fim do socialismo - nos anos 1990 - até hoje, a população russa diminuiu em cerca de cinco milhões. Fala-se numa taxa anual de 900 mil mortes por causa do consumo exagerado, cara. O drama do alcoolismo é sério no país. Um em cada quatro russos morre por causa de bebida. A expectativa de vida de um homem russo é de 55 anos, em função desse excesso. Por isso, não abra comanda coletiva com russos. 

Você pode acabar sozinho na mesa.

PS: Como assim, cadê o Neymar? Disse que não falaria e não falei dele, mesmo. Eu fui sincero desde o começo de que não falaria. 
Mas é que cada vez que o nome dele aparece no título, os acessos bombam... 



Bob LeMont 
certamente, não está na Rússia
claramente, nunca esteve
e, depois de zoar o Putin de novo, jamais estará..

Um comentário:

LINGUA

A língua, esse pedaço de carne cercado de gente por todos os lados.  A turma da biologia vai dizer que ela não passa de um processo muscular...